Certa ocasião, em conversa informal, Paulo Gobo ouviu de um Patrão de CTG – Centro de Tradições Gaúchas, que nem toda pessoa nascida no Rio Grande do Sul deveria ser chamada de gaúcha, mas de sul-rio-grandense. Segundo seu interlocutor, seriam gaúchas mesmo, somente aquelas pessoas que de fato cultivam a tradição gauchesca que implica em usar diuturnamente a indumentária, o linguajar, os utensílios e alguns hábitos como o de montaria e tiro de laço para o peão ou a atuação culinária e bordado de ponto cruz para a prenda, por exemplo, que embora característicos desta “tradição” têm atualmente seu uso reduzido ao ponto de colocar o gaúcho desta tese à beira da extinção.
Daí que, em tempo, o artista resolve dar sua resposta a esta vertente de pensamento do tradicionalismo gaúcho expressando, em óleos sobre tela que, neste caso, o que o torna gaúcho e a toda sua família e a grande maioria de sul-rio-grandenses que conheceu e com quem conviveu ou convive, é o hábito diuturno e prazeroso que tem de cevar o mate e oferecer o chimarrão indistintamente a quem o visita ou de tomá-lo de quem o oferece.
Para Paulo, a cultura anfitriã do chimarrão, por si só, é tão digna de caracterizar a população sul-rio-grandense como gaúcha, quanto era a do lava pés que antigas civilizações cultuavam, de anfitriões lavarem os pés de quem os visitava – inclusive dos “Judas” –, porém, como aquele gesto sempre antecedia às refeições, não era feito apenas pelo prazer de bem receber as visitas, mas por necessidade, tanto pelo fato daquele povo cultuar o hábito de fazê-las deitados, quanto pela raridade do banho à época e naquela região, no entanto, esta cultura já acontece atual e misticamente só às quintas-feiras santas enquanto aquela ainda é uma prática diuturna da população gaúcha em qualquer lugar que esteja.
Não apenas como resposta, mas pensando em propagar a cultura da sua terra pelo mundo afora, para esta série temática, que batiza de
Roda de Chimarrão
antes mesmo de concluí-la, devido ao tempo de mais de uma década sem pintar, o artista opta por estudar cada óleo que imaginara desenhando-o primeiro, a grafite sobre papel – o que nem sempre fizera – e, somente depois de por ele mesmo provada e aprovada a ideia, pintá-la.